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Alexandre Biciati

Com problemas, grandes shows e 50 mil pessoas, Breve marca retomada de mega eventos em Belo

A edição do Breve Festival em 2022 foi o primeiro grande festival de música na capital mineira a rolar desde o início da pandemia em 2020. O público, carente há tanto tempo, respondeu em peso e o que se viu foi a lotação dos espaços do estádio Mineirão. Tanta expectativa, após vários adiamentos do festival, foi marcada por uma eventualidade: Belo Horizonte amanheceu chuvosa no sábado, mas, para a sorte de público, organizadores e artistas, a água parou de cair logo no início dos shows.


Com estrutura de quatro palcos montados nas áreas externas e no gramado, o Breve recebeu músicos e DJs dos mais variados estilos musicais, além de uma pista dedicada à música eletrônica. Grandes nomes se apresentaram como Djonga, Duda Beat, Ludmilla, Gal Costa, Ney Matogrosso, Pitty, Racionais MC’s e O Grande Encontro com Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.


O rapper Djonga abriu os shows no palco principal vestido com a amarelinha da seleção (que, realmente, precisa ser ressignificada) e mostrou mais uma vez porque é um dos nomes mais relevantes da cena hip hop nacional. Com um show extremamente envolvente, que também sacudiu o Lollapalloza semanas atrás, Djonga cantou suas músicas agudas e chamou atenção pelo profissionalismo do verdadeiro espetáculo que proporcionou.


Cenário, efeitos de pirotecnia, luzes, figurino, bailarinos, além das participações de Kyan, da filha Iolanda e de Tasha & Tracie, nada foi negligenciado. Para além da competência de Djonga, que teve o público nas mãos e cativou até quem não tinha intimidade com seu som, ficou nítida a proposta de entrega: um show completo. Djonga, que ainda subiria ao palco dos Racionais MC’s onde cantaria clássicos da banda, terminou nos braços do público.


Os Racionais MC’s tiveram público em peso aguardando horas a fio na grade. O clima mudou radicalmente quando se apagam as luzes e a banda, sob regência tal qual uma orquestra, abre o show. Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay não pouparam disposição e repertório para sacudir a esplanada. Logo no início mandaram “Diário de um Detento”, clássico de 1997. O contexto das imagens no telão e a presença do palhaço ajudaram a dar o tom digno de um show tido como inesquecível.


Representante do pop sofrência, a pernambucana Duda Beat mostrou seu novo show no Breve (que havia arrastado 4 mil pessoas para o Espaço das Américas, em São Paulo, uma semana antes) e tomou conta do palco. Acompanhada por sua dupla de backing vocals, dançava também com sua roupa vermelha que parecia extensão do próprio corpo. Em momento inusitado levou o público aos gritos quando, após um solo de guitarra, trocou selinho com o guitarrista, seu namorado e parceiro musical Tomás Tróia. Duda Beat foi uma das muitas mulheres que se apresentaram a frente dos palcos do festival.


Ludmilla e Pitty também deixaram sua marca no evento. A primeira, acompanhada de uma equipe de dançarinas, colocou a pista do palco Breve pra dançar junto em uma apresentação enérgica e com muito rebolado. Após voltar aos palcos em Salvador, Pitty lembrou que deixou uma dívida com a plateia mineira e reviveu músicas de todas as fases da carreira. Pitty foi uma, entre vários artistas, que endossaram o coro anti-governo entoado pelo público em absolutamente todos os shows e que vem sendo, sem dúvida, uma marca de quase todas as apresentações ao vivo após a retorno dos eventos culturais.


Acompanhada de uma banda minimalista, Gal Costa fez um dos show mais memoráveis do evento e também se posicionou por mais de uma vez ao cantar hinos da música brasileira como a tropicalista “Divino Maravilhoso” e “Brasil”, de Cazuza. Devido ao formato de shows simultâneos, quem é fã da música popular brasileira teve que se esforçar e correr para o outro palco para não perder a apresentação de Ney Matogrosso.


Engrossando a presença da MPB, Ney fez apresentação impecável como é de costume. Trajando um colant bordado em dourado, Ney cantou músicas como “Yolanda” que poderiam soar ousadas para o formato do festival. Quem teve oportunidade de conferir Ney Matogrosso pôde testemunhar a conexão que se estabeleceu com a plateia e se emocionar com um artista que domina de forma invejável a técnica e o próprio talento. E sim, “Sangue Latino” estava no repertório para alegria dos fãs da fase Secos & Molhados do artista.


Para fechar o festival, O Grande Encontro, show que celebrou mais uma característica da edição 2022 do Breve: o encontro de gerações. Com fundo de palco que era um verdadeiro portal para o nordeste, Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo reviveram suas grandes canções e a esplanada cantou junto. “Dia Branco”, “Ai que Saudade D’Ocê” e “La Belle de Jour” estavam presentes no repertório que é a cara do Brasil.


Apesar do sucesso, alguns episódios deixaram marcas negativas em quem saiu de casa, às vezes a milhares de quilômetros de distância, para curtir e se deparou com diversos problemas de organização e infraestrutura. As queixas unânimes giram em torno da dificuldade de acesso ao estádio, filas quilométrica, falta de revista, não conferência de comprovantes de vacina e ausência de transporte para voltar para casa. Alguns casos ainda mais graves, como a dificuldade nas compra de alimentação e até furtos de celular, mancharam a experiência de alguns (as reclamações no Instagram do festival são extensas).


Todo megaevento esta suscetível a falhas, e o Breve não está isento a elas. Chamando a atenção (em todos os cantos do país) desde o anúncio do cuidadoso line-up, com representantes da ala clássica da música brasileira e nomes retumbantes da nova cena, fica a sensação de que o Breve tentou dar um passo maior do que a perna… e quase tropeçou. Fica a torcida para que esse festival, que celebra o respeito e a diversidade, aprenda com seus erros e retorne impecável em 2023 – quem sabe, dividido em dois dias e permitindo que o público assista com calma e boas condições a todos os seus artistas favoritos.



Texto originalmente publicado no site Scream & Yell.

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